Minhas histórias, histórias que conto, canções, pensamentos, diálogos e outras formas de compartilhar sentimentos e emoções.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
“Duas semanas depois morreu, com falência múltiplas dos
órgãos, devido a uma infecção resultada por um ferimento que tivera no útero, acompanhada
por um aborto espontâneo, ocorrido quando ainda estava se recuperando no
hospital. Os médicos haviam comentado isso a ela. Disseram que o corte estava
curado. Foi a única coisa que ela não me falou. A infecção iniciou e a matou em
menos de vinte e quatro horas.
Ela me deixara tudo o que tinha. Não entendi o porquê e
assim passei até que li uma carta sua, entregue por seu advogado.
“Prezado amigo!
É bem provável estar lendo esta carta sem ainda entender o
que aconteceu. Eu mesma só fui acreditar depois de uns dois dias de muito
sofrimento. Não pude lhe falar nada com medo de que não me fosse acreditar.
Falei dos meus sonhos, dos meus pais, irmãos. Apenas não lhe falei que estavam
preparando a minha nova casa, era o que diziam. Eu ficava sem entender se
deveria comprar uma nova casa, ou coisa do gênero. Mas um dia, depois de um
sono muito longo, porém muito profundo, descobri que iria morrer. Era o que
eles diziam sobre estarem preparando minha nova casa. Conversei com meus pais.
Eles me apresentaram pessoas da família que eu nunca tinha visto, mas que me
davam uma tranqüilidade grande de mais para não acreditar. Então, um dia
falaram que eu deveria procurar um advogado com a sua ajuda, preparar meu
testamento e colocá-lo como meu herdeiro universal, justificando os laços de
sentimentos que nos uniam. Já que os médicos tinham atestado a minha lucidez,
quando fui falar com um juiz para retomar a minha guarda eu aproveitei para que
ele me orientasse sobre o meu testamento, sobre os meus mais recentes desejos. Conversamos
e orientou que eu os registrassem em cartório. Assim estava me preparando para
reencontrar minha família.
Peço que consiga um advogado para cuidar no meu amigo, ele
é uma pessoa boa, o irmão mais velho é que o levou a cometer o que cometeu. Não
precisa você se envolver nas questões ligadas a eles. Cada um de nós tem que
ser responsável pelo que faz de bom ou de ruim. Apenas peço que arranje um
advogado, para que ele possa ter uma segunda chance, todos nós temos.
Ter estado ao seu lado foi uma segunda chance. Eu queria
morrer quando você me gritava na parte de baixo da casa. O que tinha vivido
para mim era uma violência insuportável. Presa a cama eu desejava sangrar até
morrer. Pedi ao meu pai que aceitasse meu namoro com Júnior, que ele era um
cara legal, apenas jovem como eu e ainda teríamos que aprender muito. No dia do
meu aniversário, para não passarmos a sós, ele permitiu que Júnior viesse e
ainda trouxesse o irmão que eu também não conhecia. Tudo começou muito bem, com
muita educação por parte do irmão de Júnior. Nós brindamos, tomamos um pouco de
vinho e logo depois o irmão se revelou um cara violento. Obrigou Júnior a
amarrar meu pai, pois se não ele me mataria ali na frente de todos e depois foi
a tristeza que você deve imaginar.
Sua presença na casa falando de como estava meu pai foi inicialmente,
assustadora. Não tinha ouvido muito o irmão do Júnior falar, e pensei que ele
tinha voltado para me violentar mais. Como ele sabia onde eu estava, fiquei em dúvida. Quando você
disse que iria embora buscar a polícia eu acreditei que fosse alguém tentando
me auxiliar. Então gritei por socorro e você apareceu como luz, no fim da
escuridão, trazendo esperanças a minha vida. Seu nervosismo e sua tentativa de
me acalmar, mostraram quanto estava desesperado com tudo aquilo. Fechava os
olhos pedindo para que você se acalmar e pudesse me ajudar melhor, mais você
achava que eu estava morrendo e começava a falar coisas engraçadas como seu
nome completo, que adorava comer frango cozido com muitos legumes, ouvir muitos
estilos de música, cuidar de crianças, e eu ficava perdida em meus pensamentos.
Só a dor que sentia fazia me concentrar. Quando você mexeu no guarda-roupa e
depois me trouxe um lençol eu senti o quanto você seria importante em minha
segunda chance na vida. Meu ódio pelo que tinha vivido foi se transformando.
Com as noites passadas naquele hospital deixei de lado a ideia do sofrimento
cometido contra mim e meu pai, pensando em poder lhe conhecer melhor e lhe
agradecer. Saber quem era aquela pessoa que havia surgido na minha vida. Passei
a querer viver novamente. Sempre que retornava consciente de onde estava eu
perguntava por meu pai e por você. Não tinha respostas objetivas, apenas que
você voltaria e que meu pai ainda estava em tratamento, porém o efeito dos
remédios tirava a oportunidade de revê-los logo, meu pai e você. Quando o vi ao
meu lado na cama do hospital sabia que meu pai não tinha resistido e uma
tristeza se abateu sobre mim. Você passou naquele instante a ser a única pessoa
que eu tinha na vida, meu único sentido para continuar existindo. Foi
maravilhoso poder continuar lutando para estar viva. Uma linda experiência de
amor. Passei então a sonhar com meus pais.
Depois dos sonhos iniciais tive sonhos mais profundos e
passei a sonhar mais ainda com minha família. Não sabia o que significava
aquilo e um dia perguntei se eu os veria logo. Todos pareciam sorrir e
continuei sem entender. Novos sonhos e as mesmas perguntas. Então eles me
disseram o dia e as horas exatas em que eu partiria para reencontrá-los.
Tomei um grande susto, porém em meu sonho conversei com
meus pais por um longo tempo e acreditei que deveria deixá-lo e partir.
Sinto muito por ter que ser assim, mas você ainda tem sua
história para viver e superar, controlar seus desejos, suas aflições, seus
medos, tudo o que fizer será uma escolha difícil, porém necessária.
Obrigada por tudo! Partirei logo.” “
Trecho do
conto a Jovem Sahra de Teddy Williams
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Trailer "Sete Vidas" - Legendado (PT-BR)
Vale assistir, a emoção ainda é forte, mesmo pela segunda vez.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Rosas e Livros
Teddy Williams
Cresci em meio à pobreza da comunidade e família. Meus pais
eram o que eu aprendi a denominar hoje, com muita dor em meu peito, miseráveis.
Assim fomos chamados um dia. Vivíamos de favor ou ajudados por esmolas. Muitas
vezes éramos levados, por nosso pai, até a pista mais próxima ou perto de algum
mercado, onde ele nos deixava pedindo esmolas, com a obrigação de sempre
trazermos dinheiro. Apanhávamos muito, quando retornávamos com pouco. Ele bebia
sempre. Ficávamos até o cair da noite, pedindo. O corpo doía. Fedíamos e quase
sempre adoecíamos. Acredito que um de nossos irmãos morreu por isso. Ele
começou a ter convulsões. Lembro como se fosse hoje, logo depois estava calado,
para sempre! Deixamos de ser sete, em menos de dois anos. Passamos a ser
quatro. Eu tinha seis anos, minha irmã cinco, o pai vinte e cinco e a mãe vinte
e um. Era um tempo de muita dor. Olhávamos as outras crianças passeando,
brincando, sorrindo... Queríamos sair de onde estávamos: das calçadas, em meio
ao calor. Sair das portas dos supermercados, no vai e vem dos clientes, que
ainda hoje não somos. Das portas dos bancos, sob os olhares assustados dos que
entravam. Sempre que isso acontecia, de sairmos passeando como crianças
normais, nosso pai descobria e nos batia. Parece até que ficava próximo, nos
observando. Depois de apanharmos, secarmos as lágrimas, engolirmos o choro, ele
dizia para nunca sairmos de onde estávamos e nunca sonharmos. Nada de sonhos.
Demoramos pouco para aprender essa lição, tão simples.
Passamos muita fome, frio e medo. Nossa comunidade vez por outra era acordada
ao som de tiros, sirenes de carros de polícia e helicópteros. Quase perdemos
nossa casa, ou melhor, o lugar onde deitávamos. Quase não dormíamos, era uma
mistura de pedaços de papelão, madeiras, jornais e sacos. Nossa comunidade
cheirava mal. Alguns até morriam de morte natural. Muitos nasciam, sabíamos
pelos choros dos pequeninos e os gritos dos grandes.
Um dia, já quase no fim da tarde, um grupo se aproximou da
gente e ofereceu lanches, perguntando por nossos pais ou responsáveis. Disse
que chegariam logo, foram ali, bem ali... menti. Estávamos em frente a um
supermercado desses grandes, pedindo esmolas. Do outro lado da rua tinha uma
praça, enorme, onde nunca tínhamos sonhado em ir. Lá as crianças brincavam. Os
adultos corriam e velhos jogavam baralhos, damas ou apenas caminhavam, quando
não estavam sentados olhando ao longe. Eu gostava de imaginar (não sonhar) o
que os pais falavam para as crianças. Meus irmãos e eu nunca tínhamos sorrido,
eu não lembrava. As outras crianças sorriam caminhando de mãos dadas com seus
pais. Nem percebi direito, rapidamente outro grupo foi se organizando na praça.
Uma mulher de saia colorida, blusa branca, chapéu preto, sentou-se e abriu
algumas caixas. As pessoas foram se aproximando, chamadas por uma canção que eu
não sabia de onde vinha. Por um instante pensei nas festas em que o tal Papai
Noel aparece. Até nossos pais surgiram para comer os pães e tomar refrigerantes
que ainda estava sendo distribuído. Fomos convidados para irmos à praça.
Disseram que ia ser legal, tudo de graça: brincadeiras, livros, leituras,
canções... Colocaram a gente bem perto da mulher com o chapéu preto. Eles tinham
quase as mesmas roupas, os mesmos chapéus. Depois de tudo arrumado, a mulher
deu boa noite e começou a cantar. Cantou, cantou e sorriu. Cantou, sorriu e
parou. Depois pediu silêncio com uma voz baixinha e o dedo nos lábios. Ficamos
calados e ela foi dizendo assim: era uma vez, dentro de uma imensa e linda floresta,
um som que mais parecia um sorriso de criança... Com essas palavras, como em um
passe de mágica, continuei atento, até meu pensamento ficou calado e fui indo,
entrando na floresta e vendo... Talvez isso tivesse acontecido com meus pais e
todos que estavam ali, pois o silêncio foi total, nem o barulho dos carros se
ouvia na rua... Imaginei (não era sonho), o lugar que ela descrevia. A cada
palavra que falava, mesmo sem eu entender o significado de quase todas,
acreditei compreender o que ela queria dizer. Seus gestos eram leves. Eu
acompanhava seus dedos, suas mãos... Ela falava dos grandes e dos pequenos rios.
Das longas árvores, maiores que os maiores dos prédios ao redor daquela praça.
Falava de lugares com pessoas diferentes: suas casas, suas canções, seus
instrumentos musicais. Começou e foi assim, por um bom tempo, contando uma
longa e linda história!
Ao meu lado, mais de trinta crianças acompanhadas de seus
pais. Todos ali, atentos à contadora de histórias e encantados. Ela falou de
alegrias e esperanças. Das dificuldades que enfrentamos na vida e suas belezas.
Quando parou, disse que a esperança vem de longe, de muito longe e está dentro
de nós. Que toda a natureza sempre comemora nossos passos, pois assim é
preciso. Todos aplaudiram, até meus pais, que só reclamam da vida, choravam.
Chorei de tanta alegria. Novamente eles cantaram e nós acompanhamos. Fomos
convidados a olhar os livros, colocados em cima de panos coloridos. Era a
primeira vez que eu os via assim de perto. Ela mostrou uns e disse que ali
estavam as histórias que contou. Presenteou a todos com rosas e livros. Era
abril. Falou de escolas, bibliotecas, centros culturais, de árvores, praças,
lagoas... Lugares onde meus pais poderiam ir e nos levar.
Deitamos maravilhados pelas histórias que ouvimos e, para nossa
surpresa, pela primeira vez, nossa mãe leu o que tinha nos livros, com voz
suave e o rosto transformado. Ficamos calados. Até nosso pai parecia outro
homem. Eu nunca tinha visto minha mãe ler nada. Chorei muito, não sei por que,
mas era lindo. Pedi para ela contar outra história e assim adormeci e sonhei.
Quando acordei, minha mãe cantava, meu pai estava de barba feita e cabelos
penteados. Senti que algo havia acontecido. Não mendigamos mais depois daquele
dia. Durante noites, antes de dormirmos, ela continuava a ler. Depois de alguns
dias foram aparecendo outras pessoas da comunidade e o silêncio era total para
ouvi-la. Ela foi convidada a contar histórias em outros barracos: tomávamos
café, comíamos pão, bolacha. Outras pessoas também começaram a contar histórias
e a comunidade foi se transformando, em meio a tantos problemas que ainda
existiam. Um grupo passou a trazer livros, revistas, jornais. Um dia, minha mãe
disse a todos: as histórias estão no mundo, em cada um de nós, nos livros e em
nossas vidas. É preciso aprender a ouvir, a ver, a sentir e a ler, para poder
contar, transmitir, compartilhar e encantar. Depois dessas palavras ela disse
que nós deveríamos começar a estudar. Já estava passando da hora de dar um rumo
novo as nossas vidas. Foi assim que ela falou. Eu adorei o que ouvi, mesmo só
entendendo hoje, depois de sete anos, o que significavam aquelas palavras.
sábado, 5 de maio de 2012
Shaman - Fairy Tale
Senhora Encantada ... são lindos os contos que saem de seus lábios e me banham a alma.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
quarta-feira, 2 de maio de 2012
terça-feira, 1 de maio de 2012
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