sexta-feira, 23 de novembro de 2012


As lembranças de Minas
Teddy Williams

Seria a sua última viagem por esse mês. Tudo o que tinha planejado desde a primeira vez dera certo. Trabalhara bastante. Exaustivamente. Poderia pagar suas dívidas e agora era descansar um pouco. No aeroporto, como de costume, sempre revisava as duas malas antes de embarcar: uma com fita branca na borda seria a sua de mão e a outra, com fita azul, seria a que despacharia.

Resolveu sentar-se para ainda apreciar a vista panorâmica no salão de embarque. Ao longe, avistou uma loja e lembrou-se do queijo de Minas que prometera a sua mãe - a correria foi tanta que quase o ia esquecendo. Levantou-se e dirigiu-se ao balcão, onde foi atendido por uma senhora com lindo sorriso.
- Pois não, poço ajudá-lo?
- Claro! Preciso de uma peça de queijo do Serro: redondo e pesando aproximadamente um quilo – não queria ter excesso na bagagem.

Ela lhe mostrou o queijo. Ele confirmou e disse:
- É para presente, por favor! Lembranças para minha mãe.

Recebeu-o bem embrulhado em papel bonito. Pagou. Agradeceu e saiu!

Lembrou-se que o embrulho do queijo fora feito em um papel parecido com o das encomendas que já trazia em sua bagagem de mão. Cuidadosamente guardou-o e foi esperar o chamado para o embarque.

Logo que autorizaram, ele dirigiu-se a fila, que não era grande. Há dezoito dias que estava distante da esposa e muitos meses sem ver os pais, a saudade de todos era grande. A esposa, jovem e também independente, já tinha decidido que do aeroporto mesmo embarcariam para sua primeira semana de viagem a Maceió, somente os dois. Esperavam por ele, no aeroporto, ela, seu irmão e sua mãe que a levaram para o embarque junto com as suas cinco malas cor de rosa. Também estavam lá os pais dele, sentados um pouco distantes. Vieram mais cedo, desejar boa viagem ao filho.

Aline, a esposa, era apaixonada por todos os doces que ele lhe trazia das viagens: geléias de pimenta, doce de leite, balas de caramelo, mamão com coco, amoras, figo e especialmente o que ele estava levando, mesclado de chocolate com leite, da região de Araxá em Minas Gerais, “uma dilííícia”, era o que sempre ela dizia.

A mãe, a quem ele fazia mais agrados do que a esposa, nascida em Minas, fazia tempo que não ia a sua cidade natal. Recomendara-lhe queijo para matar desejos e recordações, caso ele passasse pelo aeroporto daquele estado. Também trazia lembranças para os sogros: estava levando geleia de mocotó e garrafinhas de cachaça, escolha da própria sogra, que desejava fazer uma surpresa ao marido, marinheiro de muitas viagens.

A tranqüilidade do voo fez com que ele sonhasse em um dia ter reunidos em uma mesma viagem, seus pais, sua esposa e seus sogros. Algo que não vinha sendo fácil nos últimos meses.
O piloto informa da proximidade à Fortaleza: clima bom, temperatura agradável e obrigado por escolherem a nossa companhia!

O avião aterrissou. Bagagem na mão, agora é rever a família e viajar novamente. Uma loucura, mas para não desagradar à esposa, já que as férias não coincidiram, concordou em terem esses sete maravilhosos dias juntos, ele pensou sorrido. Com suas malas dentro do carrinho saiu para o reencontro de todos. A alegria foi imensa. Os pais choravam, pois já não viam o filho há mais de quatro meses, por causa das viagens. A sogra também em lágrimas, pois sua filha começou a chorar, já sentindo imensas saudades da família, da qual nunca se separara, mesmo após o casamento, pois a lua de mel fora na própria cidade.

Depois de alguns abraços, beijos e notícias de Minas e do Rio, entregou os presentes que trouxera. Observou que todos eram em sacolas quase parecidas. Cansado, não quis se certificar dos presentes que estava distribuindo. A sogra pegou o seu e consolando a filha guardou-o sem olhar seu conteúdo. Os pais, desejando boa viagem ao casal e lembrando que eles ainda precisavam fazer o check in, também guardaram o que receberam com sorrisos e agradecimentos. Para a esposa, disse que o entregaria na segunda lua de mel.

Check in feito, agora rumo à sala de embarque. Passaram pelo raio x e o vôo já estava liberado. Ela, feliz pela viagem que estava fazendo, só queria chegar logo para poder aproveitar a companhia do marido. Ele, cansado, também feliz pela primeira viagem fora do estado com a esposa, precisava dormir um pouco melhor, depois de tantos dias trabalhando.

No hotel cinco estrelas, tudo escolhido por ela, depois de três horas de viagem, adormeceram. Amanheceram felizes. Beijos! Abraços! Bom dia! Ela logo desejou ver o presente que ele lhe trouxera. Ele, ainda sonolento, diz-lhe com carinho para que ela o pegasse na mala da fita branca. Ela o encontra. Abre e logo começa a chorar, reclamando do cheiro desagradável do presente. Ele viu que eram os presentes recomendados pela sogra. Segundos depois, em seu celular, sua mãe pede notícias da viagem e agradece pelo maravilhoso mesclado de Araxá que recebera. Uma delícia, disse ela, delícia!

No outro canto da cama, ela, a esposa, continua chorando e reclamando do cheiro do doce que dessa vez ele lhe trouxera: “parecia cheiro de carne de boi” - e a mãe, ao celular, sem ouvir a filha reclamava do presente que o genro lhe dera dessa vez: “um quilo de queijo branco e ainda mais sem sal, um horror!”.

Ele voltou a dormir e sonhou em como seria bom se todos estivessem juntos e ele pudesse trocar os presentes, experimentar um pouco de cada lembrança que trouxera e contar sobre suas viagens. Nada mais, além disso.

(Crateús, 01 de setembro de 2011 – 02:13h)