sexta-feira, 23 de novembro de 2012


As lembranças de Minas
Teddy Williams

Seria a sua última viagem por esse mês. Tudo o que tinha planejado desde a primeira vez dera certo. Trabalhara bastante. Exaustivamente. Poderia pagar suas dívidas e agora era descansar um pouco. No aeroporto, como de costume, sempre revisava as duas malas antes de embarcar: uma com fita branca na borda seria a sua de mão e a outra, com fita azul, seria a que despacharia.

Resolveu sentar-se para ainda apreciar a vista panorâmica no salão de embarque. Ao longe, avistou uma loja e lembrou-se do queijo de Minas que prometera a sua mãe - a correria foi tanta que quase o ia esquecendo. Levantou-se e dirigiu-se ao balcão, onde foi atendido por uma senhora com lindo sorriso.
- Pois não, poço ajudá-lo?
- Claro! Preciso de uma peça de queijo do Serro: redondo e pesando aproximadamente um quilo – não queria ter excesso na bagagem.

Ela lhe mostrou o queijo. Ele confirmou e disse:
- É para presente, por favor! Lembranças para minha mãe.

Recebeu-o bem embrulhado em papel bonito. Pagou. Agradeceu e saiu!

Lembrou-se que o embrulho do queijo fora feito em um papel parecido com o das encomendas que já trazia em sua bagagem de mão. Cuidadosamente guardou-o e foi esperar o chamado para o embarque.

Logo que autorizaram, ele dirigiu-se a fila, que não era grande. Há dezoito dias que estava distante da esposa e muitos meses sem ver os pais, a saudade de todos era grande. A esposa, jovem e também independente, já tinha decidido que do aeroporto mesmo embarcariam para sua primeira semana de viagem a Maceió, somente os dois. Esperavam por ele, no aeroporto, ela, seu irmão e sua mãe que a levaram para o embarque junto com as suas cinco malas cor de rosa. Também estavam lá os pais dele, sentados um pouco distantes. Vieram mais cedo, desejar boa viagem ao filho.

Aline, a esposa, era apaixonada por todos os doces que ele lhe trazia das viagens: geléias de pimenta, doce de leite, balas de caramelo, mamão com coco, amoras, figo e especialmente o que ele estava levando, mesclado de chocolate com leite, da região de Araxá em Minas Gerais, “uma dilííícia”, era o que sempre ela dizia.

A mãe, a quem ele fazia mais agrados do que a esposa, nascida em Minas, fazia tempo que não ia a sua cidade natal. Recomendara-lhe queijo para matar desejos e recordações, caso ele passasse pelo aeroporto daquele estado. Também trazia lembranças para os sogros: estava levando geleia de mocotó e garrafinhas de cachaça, escolha da própria sogra, que desejava fazer uma surpresa ao marido, marinheiro de muitas viagens.

A tranqüilidade do voo fez com que ele sonhasse em um dia ter reunidos em uma mesma viagem, seus pais, sua esposa e seus sogros. Algo que não vinha sendo fácil nos últimos meses.
O piloto informa da proximidade à Fortaleza: clima bom, temperatura agradável e obrigado por escolherem a nossa companhia!

O avião aterrissou. Bagagem na mão, agora é rever a família e viajar novamente. Uma loucura, mas para não desagradar à esposa, já que as férias não coincidiram, concordou em terem esses sete maravilhosos dias juntos, ele pensou sorrido. Com suas malas dentro do carrinho saiu para o reencontro de todos. A alegria foi imensa. Os pais choravam, pois já não viam o filho há mais de quatro meses, por causa das viagens. A sogra também em lágrimas, pois sua filha começou a chorar, já sentindo imensas saudades da família, da qual nunca se separara, mesmo após o casamento, pois a lua de mel fora na própria cidade.

Depois de alguns abraços, beijos e notícias de Minas e do Rio, entregou os presentes que trouxera. Observou que todos eram em sacolas quase parecidas. Cansado, não quis se certificar dos presentes que estava distribuindo. A sogra pegou o seu e consolando a filha guardou-o sem olhar seu conteúdo. Os pais, desejando boa viagem ao casal e lembrando que eles ainda precisavam fazer o check in, também guardaram o que receberam com sorrisos e agradecimentos. Para a esposa, disse que o entregaria na segunda lua de mel.

Check in feito, agora rumo à sala de embarque. Passaram pelo raio x e o vôo já estava liberado. Ela, feliz pela viagem que estava fazendo, só queria chegar logo para poder aproveitar a companhia do marido. Ele, cansado, também feliz pela primeira viagem fora do estado com a esposa, precisava dormir um pouco melhor, depois de tantos dias trabalhando.

No hotel cinco estrelas, tudo escolhido por ela, depois de três horas de viagem, adormeceram. Amanheceram felizes. Beijos! Abraços! Bom dia! Ela logo desejou ver o presente que ele lhe trouxera. Ele, ainda sonolento, diz-lhe com carinho para que ela o pegasse na mala da fita branca. Ela o encontra. Abre e logo começa a chorar, reclamando do cheiro desagradável do presente. Ele viu que eram os presentes recomendados pela sogra. Segundos depois, em seu celular, sua mãe pede notícias da viagem e agradece pelo maravilhoso mesclado de Araxá que recebera. Uma delícia, disse ela, delícia!

No outro canto da cama, ela, a esposa, continua chorando e reclamando do cheiro do doce que dessa vez ele lhe trouxera: “parecia cheiro de carne de boi” - e a mãe, ao celular, sem ouvir a filha reclamava do presente que o genro lhe dera dessa vez: “um quilo de queijo branco e ainda mais sem sal, um horror!”.

Ele voltou a dormir e sonhou em como seria bom se todos estivessem juntos e ele pudesse trocar os presentes, experimentar um pouco de cada lembrança que trouxera e contar sobre suas viagens. Nada mais, além disso.

(Crateús, 01 de setembro de 2011 – 02:13h)

sábado, 6 de outubro de 2012

Tema da Vida - Marcus Viana (Completa)


Tema da Vida

Se os corações e as mentes se unirem
Num grande anel com a força da paz
A luz do amor que aquece as estrelas
Irá nos iluminar
A vida é tão breve e há tanto por fazer
Por que então matar e morrer?
Crianças da África
Crianças da América
Crianças da Ásia, Europa e Brasil
Crianças da Terra herdarão a Paz!
Herdarão a Paz!


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Adriana Partimpim -- Ciranda da Bailarina -- Videoclipe Oficial




Ciranda da Bailarina
Chico Buarque

Procurando bem Todo mundo tem pereba Marca de bexiga ou vacina E tem piriri, tem lombriga, tem ameba Só a bailarina que não tem

E não tem coceira Verruga nem frieira Nem falta de maneira Ela não tem

Futucando bem Todo mundo tem piolho Ou tem cheiro de creolina Todo mundo tem um irmão meio zarolho Só a bailarina que não tem

Nem unha encardida Nem dente com comida Nem casca de ferida Ela não tem

Não livra ninguém Todo mundo tem remela Quando acorda às seis da matina Teve escarlatina Ou tem febre amarela Só a bailarina que não tem

Medo de subir, gente Medo de cair, gente Medo de vertigem Quem não tem

Confessando bem Todo mundo faz pecado Logo assim que a missa termina Todo mundo tem um primeiro namorado Só a bailarina que não tem


Sujo atrás da orelha Bigode de groselha Calcinha um pouco velha Ela não tem

O padre também Pode até ficar vermelho Se o vento levanta a batina Reparando bem, todo mundo tem pentelho Só a bailarina que não tem

Sala sem mobília Goteira na vasilha Problema na família Quem não tem

Procurando bem Todo mundo tem...

domingo, 30 de setembro de 2012

Bia Bedran - Poema Menino e a árvore - Música Quintal



Quintal
Bia Bedran

Brincar no quintal
Prá renascer a criança
Moleque levado saci-pererê...
Que quer andar solto no
mato,
Mas vive trancado dentro de
você.
Sai correndo muito ligeiro,
voa que nem passarinho...
Pique esconde, pique ajuda,
pique cola, pique tá,
Não deixa ninguém te pegar.
Refrão
Pula corda alto do céu,
Dá impulso com o pé no chão
Uma volta, outra volta, gira
mundo sem parar
Bate forte, coreção...
Refrão
Sai procurando um tesouro
onde estará escondido?
Vê no mapa. Hi! Cuidado!
tem pirata, armadilha, tem
mocinho, tem bandido.
Refrão

Paciencia - Lenine


UM LINDO DOMINGO E UM POUCO MAIS DE PACIÊNCIA!

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Zizi Possi - Caminhos de Sol


Caminhos de Sol

Sem você a vida pode parecer
Um porto além de mim
Coração sangrando
Caminhos de sol no fim
Nada resta mas o fruto que se tem
É o bastante pra querer
Um minuto além
Do que eu possa andar com você
Te amo e o tempo não varreu isso de mim
Por isso estou partido
E tão forte assim
O amor fez parte
De tudo que nos guiou
Na inocência cega
No risco das palavras e até no risco da palavra Amor
Nada resta mas o fruto que se tem
É o bastante pra querer
Um minuto além
Do que eu possa andar com você
Te amo e o tempo não varreu isso de mim
Por isso estou partido
E tão forte assim
O amor fez parte
De tudo que nos guiou
Na inocência cega
No risco das palavras e até no risco da palavra Amor
O amor fez parte
De tudo que nos guiou
Na inocência cega
No risco das palavras e até no risco da palavra Amor

domingo, 15 de julho de 2012

O Diário de Anne Frank - Filme Completo


Todas as Injustiças devem ser rediscutidas,
combatidas, enfrentadas,
para evitarmos o seu retorno ou o nascimento de outras. 

sábado, 14 de julho de 2012


As lembranças de Minas
Teddy Williams

Seria a sua última viagem, por esse mês. Tudo o que tinha planejado, desde a primeira vez dera certo. Trabalhara bastante, exaustivamente. Poderia pagar suas dívidas e agora era descansar um pouco.
No aeroporto, como de costume, sempre revisava as duas malas antes de embarcar: uma com fita branca na borda seria a sua de mão e a outra, com fita azul, seria a que despacharia.
Resolveu sentar-se para ainda apreciar a vista panorâmica no salão de embarque. Ao longe, avistou uma loja e lembrou-se do queijo de Minas que prometera a sua mãe - a correria foi tanta que quase o ia esquecendo. Levantou-se e dirigiu-se ao balcão, onde foi atendido por uma senhora com lindo sorriso.
- Pois não, poço ajudá-lo?
- Claro! Preciso de uma peça de queijo do Serro, redondo e pesando aproximadamente um quilo – não queria ter excesso na bagagem.
Ela lhe mostrou o queijo. Ele confirmou e disse:
- É para presente, por favor! Lembranças para minha mãe.
Recebeu-o bem embrulhado em papel bonito. Pagou, agradeceu e saiu!
Lembrou-se que o embrulho do queijo fora feito em um papel parecido com o das encomendas que já trazia em sua bagagem de mão.
Cuidadosamente guardou-o e foi esperar o chamado para o embarque.
Logo que autorizaram, ele dirigiu-se a fila, que não era grande. Fazia dezoito dias que estava distante da esposa e muitos meses sem ver os pais, a saudade era grande.
A esposa, jovem e também independente, já tinha decidido que do aeroporto mesmo embarcariam para sua primeira semana de viagem a Maceió, somente os dois. Esperavam por ele no aeroporto, ela, seu irmão e sua mãe, que a levaram para o embarque junto com as suas cinco malas cor de rosa e os pais dele, sentados um pouco distantes, que foram em carro próprio, desejar boa viagem ao filho.
Aline, a esposa, era apaixonada por todos os doces que ele lhe trazia das viagens: geléias de pimenta, doce de leite, balas de caramelo, mamão com coco, amoras, figo e especialmente o que ele estava levando, mesclado de chocolate com leite, da região de Araxá em Minas Gerais, “uma dilííícia”, era o que sempre ela dizia.
A mãe, a quem ele fazia mais agrados do que a esposa, nascida em Minas, fazia tempo que não ia a sua cidade natal. Recomendara-lhe queijo para matar desejos e recordações, caso ele passasse pelo aeroporto daquele estado. Também trazia lembranças para os sogros. Estava levando geléia de mocotó e garrafinhas de cachaça, escolha da própria sogra, que desejava fazer uma surpresa ao marido, marinheiro de muitas viagens.
A tranqüilidade do voo fez com que ele sonhasse em um dia ter reunidos em uma mesma viagem, seus pais, sua esposa e seus sogros. Algo que não vinha sendo fácil nos últimos meses.
O piloto informa da proximidade à Fortaleza: clima bom, temperatura agradável e obrigado por escolherem a nossa companhia!
O avião aterrizou. Bagagem na mão, agora é rever a família e viajar novamente. Uma loucura, mas para não desagradar a esposa, já que as férias não coincidiram, concordou em terem esses sete maravilhosos dias juntos, ele pensou sorrido.
Com suas malas dentro do carrinho saiu para o reencontro de todos.
A alegria foi imensa. Os pais choravam, pois já não viam o filho há mais de quatro meses, por causa das viagens. A sogra também em lágrimas, pois sua filha começou a chorar, já sentindo imensas saudades da família, da qual nunca se separara, mesmo após o casamento, pois a lua de mel foi na própria cidade.
Depois de alguns abraços, beijos e notícias de Minas e do Rio entregou os presentes que trouxera. Observou que todos eram em sacolas quase parecidas. Cansado, não quis se certificar dos presentes que estava distribuindo. A sogra pegou o seu e consolando a filha guardou-o sem olhar seu conteúdo. Os pais, desejando boa viagem ao casal e lembrando que eles ainda precisavam fazer o check in, também guardaram o que receberam com sorrisos e agradecimentos. Para a esposa, disse que o entregaria na segunda lua de mel.
Check in feito, agora rumo à sala de embarque. Passaram pelo raio x e o vôo já estava liberado.
Ela, feliz pela viagem que estava fazendo, só queria chegar logo para poder aproveitar a companhia do marido. Ele, cansado, também feliz pela primeira viagem fora do estado com a esposa, precisava dormir um pouco melhor, depois de tantos dias trabalhando.
No hotel cinco estrelas, tudo escolhido por ela, depois de três horas de viagem, adormeceram. Amanheceram felizes. Beijos! Abraços! Bom dia! Ela logo desejou ver o presente que ele lhe trouxera.
Ele, ainda sonolento, diz-lhe com carinho para que ela o pegasse na mala da fita branca. Ela o encontra. Abre e logo começa a chorar, reclamando do cheiro desagradável do presente. Ele viu que eram os presentes recomendados pela sogra.
Segundos depois, no seu celular, sua mãe pede notícias da viagem e agradece pelo maravilhoso mesclado de Araxá que recebera. Uma delícia, disse ela, delícia!
No outro canto da cama, ao celular, ela, a esposa, continua chorando e reclamando do cheiro do doce que dessa vez ele lhe trouxera: “parecia cheiro de carne de boi” - e a mãe, sem ouvir a filha reclamava do presente que o genro lhe dera dessa vez: “um quilo de queijo branco e ainda mais sem sal, um horror!”.
Ele voltou a dormir e sonhou em como seria bom se todos estivessem juntos e ele pudesse trocar os presentes, experimentar um pouco de cada lembrança que trouxera e contar sobre suas viagens. Nada mais, além disso.


        A MOÇA TECELÃ
                                                         (Marina Colasanti)


           "Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite.  E logo sentava-se ao tear.

          Linha clara, para começar o dia.  Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

          Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

          Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo.  Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido.  Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

          Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

          Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

          Nada lhe faltava.  Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas.  E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido.  Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete.  E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.

          Tecer era tudo o que fazia.  Tecer era tudo o que queria fazer.

          Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

          Não esperou o dia seguinte.  Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado.  Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

          Nem precisou abrir.  O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

          Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

          E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu.  Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

          — Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher.  E parecia justo, agora que eram dois.  Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

          Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
     — Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou.  Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

          Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia.  Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

          Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
          — É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

          Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados.  Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

          E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros.  E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

         Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

          Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.  Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

          A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar.  Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas.  Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

          Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara.  E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte."

quarta-feira, 11 de julho de 2012

NIETZSCHE - O ETERNO RETORNO (QUANDO NIETZSCHE CHOROU)


Um Maravilhoso Filme!

Eva e Lilith

As duas eram muito amigas, quase irmãs. Mais que irmãs, uma espécie de almas complementares. Sempre foram diferentes, mas tudo o que faltava em uma sobrava na outra. Talvez por isso gostassem tanto de trocar experiências. Lilith tinha misteriosos e belos olhos negros, cabelos longos, escuros e lisos; os olhos de Eva, não eram menos belos, porém muito azuis e os cabelos encaracolados, dando-lhe um ar angelical. Até mesmo os sonhos das duas eram muito diferentes, pois enquanto Eva sonhava casar-se, ter muitos filhos e ser feliz como em um conto de fadas, Lilith ambicionava apenas viver plenamente de acordo com sua natureza meio bárbara. Queria encontrar alguém, sim, mas não para casar-se. Desejava apenas um homem tão selvagem quanto ela, capaz de lhe proporcionar no mínimo três orgasmos, um atrás do outro. Ficaram muitos anos sem se ver, as duas amigas. Mas naquele dia, talvez por capricho do destino, encontraram-se novamente. Felizes, como nos velhos tempos, confidenciaram suas intimidades uma à outra. Eva tinha se casado, possuía três lindos filhos, uma casa com um belo jardim e se considerava a mulher mais feliz do mundo. Seu marido não era nenhum galã, mas lhe dava a vida pacata que sempre almejara. Chegava cedo em casa, colocava os chinelos e roncava em frente à TV. Tímido e desajeitado fazia com que ela se sentisse segura quanto à sua fidelidade. Já Lilith estava intensamente envolvida com um homem misterioso, irresistivelmente sedutor, tal como sempre sonhara. É verdade que ela não sabia muito sobre ele, mas até preferia assim. Sabia apenas seu primeiro nome, que talvez nem fosse o verdadeiro. Entre conversas e risos elas se despediram, mas não sem antes combinarem um jantar em casa de Eva. Afinal Lilith conheceria a família de sua melhor amiga. E Lilith foi. E teve a maior surpresa de sua vida, pois descobriu que o acanhado e bem comportado marido de Eva abrigava-se no mesmo corpo de seu animal selvagem.

Sócrates - Um Filme de Roberto Rossellini


Um filme para se assistir com calma, muita calma.

segunda-feira, 14 de maio de 2012


“Duas semanas depois morreu, com falência múltiplas dos órgãos, devido a uma infecção resultada por um ferimento que tivera no útero, acompanhada por um aborto espontâneo, ocorrido quando ainda estava se recuperando no hospital. Os médicos haviam comentado isso a ela. Disseram que o corte estava curado. Foi a única coisa que ela não me falou. A infecção iniciou e a matou em menos de vinte e quatro horas.
Ela me deixara tudo o que tinha. Não entendi o porquê e assim passei até que li uma carta sua, entregue por seu advogado.

Prezado amigo!

É bem provável estar lendo esta carta sem ainda entender o que aconteceu. Eu mesma só fui acreditar depois de uns dois dias de muito sofrimento. Não pude lhe falar nada com medo de que não me fosse acreditar. Falei dos meus sonhos, dos meus pais, irmãos. Apenas não lhe falei que estavam preparando a minha nova casa, era o que diziam. Eu ficava sem entender se deveria comprar uma nova casa, ou coisa do gênero. Mas um dia, depois de um sono muito longo, porém muito profundo, descobri que iria morrer. Era o que eles diziam sobre estarem preparando minha nova casa. Conversei com meus pais. Eles me apresentaram pessoas da família que eu nunca tinha visto, mas que me davam uma tranqüilidade grande de mais para não acreditar. Então, um dia falaram que eu deveria procurar um advogado com a sua ajuda, preparar meu testamento e colocá-lo como meu herdeiro universal, justificando os laços de sentimentos que nos uniam. Já que os médicos tinham atestado a minha lucidez, quando fui falar com um juiz para retomar a minha guarda eu aproveitei para que ele me orientasse sobre o meu testamento, sobre os meus mais recentes desejos. Conversamos e orientou que eu os registrassem em cartório. Assim estava me preparando para reencontrar minha família.

Peço que consiga um advogado para cuidar no meu amigo, ele é uma pessoa boa, o irmão mais velho é que o levou a cometer o que cometeu. Não precisa você se envolver nas questões ligadas a eles. Cada um de nós tem que ser responsável pelo que faz de bom ou de ruim. Apenas peço que arranje um advogado, para que ele possa ter uma segunda chance, todos nós temos.

Ter estado ao seu lado foi uma segunda chance. Eu queria morrer quando você me gritava na parte de baixo da casa. O que tinha vivido para mim era uma violência insuportável. Presa a cama eu desejava sangrar até morrer. Pedi ao meu pai que aceitasse meu namoro com Júnior, que ele era um cara legal, apenas jovem como eu e ainda teríamos que aprender muito. No dia do meu aniversário, para não passarmos a sós, ele permitiu que Júnior viesse e ainda trouxesse o irmão que eu também não conhecia. Tudo começou muito bem, com muita educação por parte do irmão de Júnior. Nós brindamos, tomamos um pouco de vinho e logo depois o irmão se revelou um cara violento. Obrigou Júnior a amarrar meu pai, pois se não ele me mataria ali na frente de todos e depois foi a tristeza que você deve imaginar.

Sua presença na casa falando de como estava meu pai foi inicialmente, assustadora. Não tinha ouvido muito o irmão do Júnior falar, e pensei que ele tinha voltado para me violentar mais. Como ele sabia onde eu estava, fiquei em dúvida. Quando você disse que iria embora buscar a polícia eu acreditei que fosse alguém tentando me auxiliar. Então gritei por socorro e você apareceu como luz, no fim da escuridão, trazendo esperanças a minha vida. Seu nervosismo e sua tentativa de me acalmar, mostraram quanto estava desesperado com tudo aquilo. Fechava os olhos pedindo para que você se acalmar e pudesse me ajudar melhor, mais você achava que eu estava morrendo e começava a falar coisas engraçadas como seu nome completo, que adorava comer frango cozido com muitos legumes, ouvir muitos estilos de música, cuidar de crianças, e eu ficava perdida em meus pensamentos. Só a dor que sentia fazia me concentrar. Quando você mexeu no guarda-roupa e depois me trouxe um lençol eu senti o quanto você seria importante em minha segunda chance na vida. Meu ódio pelo que tinha vivido foi se transformando. Com as noites passadas naquele hospital deixei de lado a ideia do sofrimento cometido contra mim e meu pai, pensando em poder lhe conhecer melhor e lhe agradecer. Saber quem era aquela pessoa que havia surgido na minha vida. Passei a querer viver novamente. Sempre que retornava consciente de onde estava eu perguntava por meu pai e por você. Não tinha respostas objetivas, apenas que você voltaria e que meu pai ainda estava em tratamento, porém o efeito dos remédios tirava a oportunidade de revê-los logo, meu pai e você. Quando o vi ao meu lado na cama do hospital sabia que meu pai não tinha resistido e uma tristeza se abateu sobre mim. Você passou naquele instante a ser a única pessoa que eu tinha na vida, meu único sentido para continuar existindo. Foi maravilhoso poder continuar lutando para estar viva. Uma linda experiência de amor. Passei então a sonhar com meus pais.

Depois dos sonhos iniciais tive sonhos mais profundos e passei a sonhar mais ainda com minha família. Não sabia o que significava aquilo e um dia perguntei se eu os veria logo. Todos pareciam sorrir e continuei sem entender. Novos sonhos e as mesmas perguntas. Então eles me disseram o dia e as horas exatas em que eu partiria para reencontrá-los.

Tomei um grande susto, porém em meu sonho conversei com meus pais por um longo tempo e acreditei que deveria deixá-lo e partir.

Sinto muito por ter que ser assim, mas você ainda tem sua história para viver e superar, controlar seus desejos, suas aflições, seus medos, tudo o que fizer será uma escolha difícil, porém necessária.

Obrigada por tudo! Partirei logo.” “

Trecho do conto a Jovem Sahra de Teddy Williams

segunda-feira, 7 de maio de 2012





Rosas e Livros
Teddy Williams

Cresci em meio à pobreza da comunidade e família. Meus pais eram o que eu aprendi a denominar hoje, com muita dor em meu peito, miseráveis. Assim fomos chamados um dia. Vivíamos de favor ou ajudados por esmolas. Muitas vezes éramos levados, por nosso pai, até a pista mais próxima ou perto de algum mercado, onde ele nos deixava pedindo esmolas, com a obrigação de sempre trazermos dinheiro. Apanhávamos muito, quando retornávamos com pouco. Ele bebia sempre. Ficávamos até o cair da noite, pedindo. O corpo doía. Fedíamos e quase sempre adoecíamos. Acredito que um de nossos irmãos morreu por isso. Ele começou a ter convulsões. Lembro como se fosse hoje, logo depois estava calado, para sempre! Deixamos de ser sete, em menos de dois anos. Passamos a ser quatro. Eu tinha seis anos, minha irmã cinco, o pai vinte e cinco e a mãe vinte e um. Era um tempo de muita dor. Olhávamos as outras crianças passeando, brincando, sorrindo... Queríamos sair de onde estávamos: das calçadas, em meio ao calor. Sair das portas dos supermercados, no vai e vem dos clientes, que ainda hoje não somos. Das portas dos bancos, sob os olhares assustados dos que entravam. Sempre que isso acontecia, de sairmos passeando como crianças normais, nosso pai descobria e nos batia. Parece até que ficava próximo, nos observando. Depois de apanharmos, secarmos as lágrimas, engolirmos o choro, ele dizia para nunca sairmos de onde estávamos e nunca sonharmos. Nada de sonhos.

Demoramos pouco para aprender essa lição, tão simples. Passamos muita fome, frio e medo. Nossa comunidade vez por outra era acordada ao som de tiros, sirenes de carros de polícia e helicópteros. Quase perdemos nossa casa, ou melhor, o lugar onde deitávamos. Quase não dormíamos, era uma mistura de pedaços de papelão, madeiras, jornais e sacos. Nossa comunidade cheirava mal. Alguns até morriam de morte natural. Muitos nasciam, sabíamos pelos choros dos pequeninos e os gritos dos grandes.

Um dia, já quase no fim da tarde, um grupo se aproximou da gente e ofereceu lanches, perguntando por nossos pais ou responsáveis. Disse que chegariam logo, foram ali, bem ali... menti. Estávamos em frente a um supermercado desses grandes, pedindo esmolas. Do outro lado da rua tinha uma praça, enorme, onde nunca tínhamos sonhado em ir. Lá as crianças brincavam. Os adultos corriam e velhos jogavam baralhos, damas ou apenas caminhavam, quando não estavam sentados olhando ao longe. Eu gostava de imaginar (não sonhar) o que os pais falavam para as crianças. Meus irmãos e eu nunca tínhamos sorrido, eu não lembrava. As outras crianças sorriam caminhando de mãos dadas com seus pais. Nem percebi direito, rapidamente outro grupo foi se organizando na praça. Uma mulher de saia colorida, blusa branca, chapéu preto, sentou-se e abriu algumas caixas. As pessoas foram se aproximando, chamadas por uma canção que eu não sabia de onde vinha. Por um instante pensei nas festas em que o tal Papai Noel aparece. Até nossos pais surgiram para comer os pães e tomar refrigerantes que ainda estava sendo distribuído. Fomos convidados para irmos à praça. Disseram que ia ser legal, tudo de graça: brincadeiras, livros, leituras, canções... Colocaram a gente bem perto da mulher com o chapéu preto. Eles tinham quase as mesmas roupas, os mesmos chapéus. Depois de tudo arrumado, a mulher deu boa noite e começou a cantar. Cantou, cantou e sorriu. Cantou, sorriu e parou. Depois pediu silêncio com uma voz baixinha e o dedo nos lábios. Ficamos calados e ela foi dizendo assim: era uma vez, dentro de uma imensa e linda floresta, um som que mais parecia um sorriso de criança... Com essas palavras, como em um passe de mágica, continuei atento, até meu pensamento ficou calado e fui indo, entrando na floresta e vendo... Talvez isso tivesse acontecido com meus pais e todos que estavam ali, pois o silêncio foi total, nem o barulho dos carros se ouvia na rua... Imaginei (não era sonho), o lugar que ela descrevia. A cada palavra que falava, mesmo sem eu entender o significado de quase todas, acreditei compreender o que ela queria dizer. Seus gestos eram leves. Eu acompanhava seus dedos, suas mãos... Ela falava dos grandes e dos pequenos rios. Das longas árvores, maiores que os maiores dos prédios ao redor daquela praça. Falava de lugares com pessoas diferentes: suas casas, suas canções, seus instrumentos musicais. Começou e foi assim, por um bom tempo, contando uma longa e linda história!

Ao meu lado, mais de trinta crianças acompanhadas de seus pais. Todos ali, atentos à contadora de histórias e encantados. Ela falou de alegrias e esperanças. Das dificuldades que enfrentamos na vida e suas belezas. Quando parou, disse que a esperança vem de longe, de muito longe e está dentro de nós. Que toda a natureza sempre comemora nossos passos, pois assim é preciso. Todos aplaudiram, até meus pais, que só reclamam da vida, choravam. Chorei de tanta alegria. Novamente eles cantaram e nós acompanhamos. Fomos convidados a olhar os livros, colocados em cima de panos coloridos. Era a primeira vez que eu os via assim de perto. Ela mostrou uns e disse que ali estavam as histórias que contou. Presenteou a todos com rosas e livros. Era abril. Falou de escolas, bibliotecas, centros culturais, de árvores, praças, lagoas... Lugares onde meus pais poderiam ir e nos levar.

Deitamos maravilhados pelas histórias que ouvimos e, para nossa surpresa, pela primeira vez, nossa mãe leu o que tinha nos livros, com voz suave e o rosto transformado. Ficamos calados. Até nosso pai parecia outro homem. Eu nunca tinha visto minha mãe ler nada. Chorei muito, não sei por que, mas era lindo. Pedi para ela contar outra história e assim adormeci e sonhei. Quando acordei, minha mãe cantava, meu pai estava de barba feita e cabelos penteados. Senti que algo havia acontecido. Não mendigamos mais depois daquele dia. Durante noites, antes de dormirmos, ela continuava a ler. Depois de alguns dias foram aparecendo outras pessoas da comunidade e o silêncio era total para ouvi-la. Ela foi convidada a contar histórias em outros barracos: tomávamos café, comíamos pão, bolacha. Outras pessoas também começaram a contar histórias e a comunidade foi se transformando, em meio a tantos problemas que ainda existiam. Um grupo passou a trazer livros, revistas, jornais. Um dia, minha mãe disse a todos: as histórias estão no mundo, em cada um de nós, nos livros e em nossas vidas. É preciso aprender a ouvir, a ver, a sentir e a ler, para poder contar, transmitir, compartilhar e encantar. Depois dessas palavras ela disse que nós deveríamos começar a estudar. Já estava passando da hora de dar um rumo novo as nossas vidas. Foi assim que ela falou. Eu adorei o que ouvi, mesmo só entendendo hoje, depois de sete anos, o que significavam aquelas palavras.

A Maior Flor do Mundo | José Saramago

Criança Não Trabalha - DVD Pé com Pé

sábado, 5 de maio de 2012

sexta-feira, 27 de abril de 2012



O Homem
Um certo dia um homem esteve aqui

Tinha o olhar mais belo que já existiu

Tinha no cantar uma oração.

E no falar a mais linda canção que já se ouviu.

Sua voz falava só de amor

Todo gesto seu era de amor

E paz, Ele trazia no coração.

Ele pelos campos caminhou

Subiu as montanhas e falou do amor maior.

Fez a luz brilhar na escuridão

O sol nascer em cada coração que compreendeu

Que além da vida que se tem

Existe uma outra vida além e assim...

O renascer, morrer não é o fim.

Tudo que aqui Ele deixou

Não passou e vai sempre existir

Flores nos lugares que pisou

E o caminho certo pra seguir

Eu sei que Ele um dia vai voltar

E nos mesmos campos procurar o que plantou.

E colher o que de bom nasceu

Chorar pela semente que morreu sem florescer.

Mas ainda há tempo de plantar

Fazer dentro de si a flor do bem crescer

Pra Lhe entregar

Quando Ele aqui chegar

Tudo que aqui Ele deixou

Não passou e vai sempre existir

Flores nos lugares que pisou

E o caminho certo pra seguir

Tudo que aqui Ele deixou

Não passou e vai sempre existir

Flores nos lugares que pisou

E o caminho certo pra seguir


quarta-feira, 25 de abril de 2012



E a estrada me chama,
eu vou indo, ouvindo os pássaros,
o som das cigarras.
Sinto o cheiro do mato, da bosta do gado,
do rio que corre
Quando chega a noite, deitado na grama,
ao redor da fogueira pequena,
eu olhando estrelas fico em silêncio,
Sou amante e amo, ao meu modo,
o que me cerca e o que está em mim,


assim, guardado.

sábado, 21 de abril de 2012



A Filha Única da Vizinha.
Teddy Williams

Depois de alguns meses de viagens resolvi visitar meus pais. Aproveitaria para curtir as férias. O apartamento ficava a uns quinze minutos da praia, com três quartos espaçosos, banheiros, varanda e jardim. Eu tinha chegado do Pará e queria fazer uma surpresa. Soube pela vizinha, quando ela saia do apartamento ao lado, que todos estavam viajando: minha irmã, meus pais e só voltariam no fim da semana. Agradeci. Como tinha as chaves, fui entrando e ligando para meu pai. Fazia uns meses que eu não os via. Só tinha falado com minha mãe, ao telefone, ainda quando estava na estrada, voltando para o Ceará.

Ao celular, minha mãe muito animada, disse que voltaria do passeio que mal começara. Eu pedi que todos aproveitassem, pois ficaria até eles voltarem. Meu pai falou que no domingo estariam de volta - tinha cervejas e comida na geladeira. Resolvi que iria descansar: beber, deitar e curtir uns filmes antes de ir à praia.

Confortavelmente instalado em uma rede, assistindo a um filme chamado Tango, ouço a campanhinha tocar. Ao abri-la, reencontro a filha da vizinha, uma linda menina-mulher, de short jeans, blusa branca e sandálias havaianas. Sorriu e perguntou se podia entrar. Claro, dei passagem para aquela bela surpresa! Ainda em pé, ela pergunta assim, suavemente, com o olhar tímido:

- Eu estou precisando saber de uma coisa, você pode me ajudar?
- Se eu souber, ajudarei com prazer – convidei-a para sentar-se e fechei a porta.
- É que... acabei de assistir a uma reportagem sobre... Gravidez na Adolescência e precisava tirar uma dúvida: se a camisinha é um tamanho único ou tem diferentes tamanhos? Se a Pílula do Dia Seguinte tem contra-indicações? – perguntou assim, na lata.
- Calma! Devagar! – respondi. Pelo pouco que eu sei, existe uma medida padrão, mas eu já vi algumas camisinhas tipo extra, tamanha maior. Por que a dúvida? – perguntei para ver o que ela queria saber na realidade.
- As meninas na faculdade estavam com algumas. Elas falaram que já tinham passado maior sufoco com os namorados, pois as camisinhas tinham estourado devido ao tamanho do... você sabe? – dos meninos, ficantes e namorados.
- Às vezes até pode rasgar, estourar. Talvez pelo jeito de colocar, que precisa seguir alguns cuidados, antes da transa. O tamanho nem sempre é o motivo de estourar.
- Como assim, alguns cuidados? – ela perguntou já olhando nos meus olhos atenciosa, sem quase piscar.
- Você nunca abriu uma camisinha? Tem transado sem? Está grávida?
- Já vi, mas abrir mesmo, não! Nunca precisei. Você tem alguma para me mostrar como se abre? – ela perguntou sorrindo e não respondendo as minhas perguntas, indiscretas.

Lilian já tinha feito 19 anos. Estava no segundo ano da faculdade de Nutrição. Era filha única, de um casal de amigos de meus pais e muito tímida. Porém, o que tinha de timidez ela ia desenvolvendo de inteligência: dessas de ter muita curiosidade, prestar atenção no que as pessoas falam. Respeita as ideias diferentes das suas e também possui boa memória - quando sabemos usá-la é maravilhoso. Era muito educada e elabora bem as perguntas, assim consegue obter respostas sem embaraçar as pessoas com as quais conversa, no geral.

Rápido busquei umas camisinhas na mochila e lhe mostrei: sabor tuti fruti, hortelã, morango – aromas que ela sentiu logo que as pegou.
- Preste bastante atenção antes de abrir. Fui falando e lhe entregando uma camisinha.
- Tem vários sabores! Eu vi uma que era de chocolate, o sabor todinho, dava até vontade de comer.
- É sim, algumas são aromatizadas: morango, hortelã, canela, chocolate, tuti fruti e etc. Abra devagar e sinta a textura, o lubrificante, o cheiro.
- Como eu abro? Você disse que tem um jeito certo...
- Não é a questão de um jeito certo. É só para evitar que se fure ou rasgue ao abrir, o que às vezes pode acontecer e ninguém perceber. Unhas grandes, os dentes muito fortes, nunca usar outras coisas. Deixa eu te mostrar. Nas pontas nós forçamos para rasgar e abrir a embalagem ou então nos picotes, assim forçamos com os dedos.
- Mas parece ser tão fácil, do jeito que você abre. Deixa-me ver?
- Claro, mantenha ela assim presa na ponta. – disse passando a camisinha para ela, já fora da embalagem.
- E ela se estica, fica bem grande? Como aquelas bolas que já vi em muitos shows, voando para lá e para cá?
- É! Uma péssima utilização das camisinhas, mas fazer o quê?
- Sim e ai? Como ela é colocada? Quais são os cuidados mesmos? Por que elas rasgam?
- É uma entrevista para uma pesquisa? Vamos por parte... Primeiro é preciso algo para lhe demonstrar como colocá-la. Vá até a cozinha e pegue uma banana, não muito madura ou uma cenoura, média, se não tiver eu pego uma caneta mesmo.
- Caneta, banana, cenoura? Tá certo! Vou ver na cozinha, volto já.


Ela já conhece a casa, pois sempre vem conversar com minha irmã. Seus pais são muito amigos dos meus, tomam café e até almoçam juntos, quando podem. Eu é que vivo no mundo viajando e quase não os visito e quando venho, tenho a sorte de encontrá-los passeando. Meus pais se dão muito bem com os vizinhos, já moram há muitos anos no bairro.

As escolas deveriam ter aulas de Educação Sexual para ajudar na formação dos jovens e também dos pais. Teríamos mais pessoas transando porque desejam transar e não porque foram “iludidas/enganadas”. É complicado ver adolescentes em uma maturidade sexual não saberem o que fazer para terem um relacionamento “seguro” ou até não o terem, se assim escolherem, mas falta de informação é “foda”, ou melhor não é foda, é um desastre.

Ela voltou com duas bananas na mão e a camisinha na outra.
- Estão aqui, suas bananas e vamos continuar a nossa aula.
- Minhas bananas não! As bananas. E não é aula, estou apenas respondendo as suas curiosidades, que um dia eu também as tive. Pronto, o que você acha que deve ser feito com a camisinha e a banana?
- Isso é fácil, enfiar a camisinha na banana!
- Então vá lá, coloque a camisinha. Lembre-se que será usada em uma relação sexual. Ou melhor, a camisinha será colocada no pênis do seu parceiro antes da relação sexual, no auge do bem bom.

Ela sorriu e foi tentando colocar a camisinha, evitando deixar a banana cair, colocou no sofá e com as duas mãos foi descendo a camisinha na banana.
- Parabéns, já é um bom começo para quem disse nada saber sobre camisinhas.
- Obrigada, foi meio chato ter que segurar a camisinha e a banana, ela fica deslizando.
- Algumas coisas você deverá ter em mente: normalmente quem coloca a camisinha, em princípio, será seu parceiro, afinal para ele será mais prático, mas você também deve ter a sua guardada para quando precisar. Segundo, sempre é importante apertar na parte de cima, aqui onde parece um biquinho, pois é onde ficará o líquido, chamado esperma depois da transa, se seu parceiro não apertar poderá criar uma bolha de ar na hora de por a camisinha e pode fazer o esperma sair e escorrer antes de ser tirada no ato sexual. Também existem camisinhas femininas, mas isso eu não tenho aqui em casa.
- E depois é transar muito e está seguro de tudo?
- Não é assim não! Vai depender de muitas outras coisas.
- Caramba, é mais difícil do que prova de matemática e física no mesmo dia.
- É importante vocês conversarem antes de transar, o que normalmente é complicado, por causa da emoção, dos desejos, tesão. Mas seria importante, assim os dois podem se auxiliar, sei que é difícil, mas não deixe de tentar.
- Para você é fácil dizer, já comeu muita gente por ai, pensa que eu não sei?
- Muita gente não, só mulheres e as coisas não são assim tão simples como se fala por ai. Ninguém cai do céu na cama da gente e nem sai pedindo “me coma, estou de folga” ou então “estou trabalhando”, quer? Vamos terminar a aulinha para não dar bronca com a sua mãe, já faz tempo que você chegou aqui, para tirar essas dúvidas.
- Sem chance, eles foram com os meus avós até o Iguape. Só voltam mais tarde.
- É uma reunião na praia? Nem me convidaram. Tá bom, então mais tarde falamos mais sobre a camisinha.
- Tá me dispensando? Está esperando alguém?
- Não é nada disso. Não estou esperando ninguém. É que... a carne é fraca e os desejos são fortes. Já ouviu falar nisso?
- Não vejo nenhuma carne fraca aqui, nem a minha e nem a sua. Pelo contrário, vejo que está muito forte ai!
- Menina, não brinque com quem tá quieto ...
- Não quero brincar, quero é fazer. Você se garante ou não?

Não pensei mais, já estávamos com muita teoria e era hora da prática. Nossos beijos foram fortes e demorados. Caímos no sofá, com banana e tudo. Ela estava ofegante, porém sem pressa, fui tentando fazer os segundos serem horas, já que estaríamos sozinhos por muito tempo. Nossas roupas foram atiradas ao chão e aquele olhar de menina inocente me deixava com mais tesão ainda.

Lilian, sempre que podia andava aqui em casa. Minha mãe era professora de inglês e minha irmã, de 17 anos era uma de suas poucas amigas. Às vezes muitas meninas passavam o fim de semana aqui, estudando e aproveitando para pegar uma praia, era uma animação e tanto. Eu queria poder estar aqui por mais tempo, mas como era caminhoneiro, sempre estava na estrada, em uma vida muito difícil. Minha casa era na periferia, em um bairro distante e poucas vezes eu conseguia aparecer para ver a família e já fazia três dias que tinha chegado de uma viagem do Pará, onde fomos entregar umas encomendas em Belém. As estradas estão em péssimo estado, o corpo da gente fica só o caco. Descansar no apê dos meus pais é o melhor que faço às vezes.

Acabamos indo para o quarto em que eu ia dormir. Passamos à tarde juntos, aprendemos na prática como usar as camisinhas. Os pais de Lilian chegaram ao fim da noite de sexta e os meus chegaram domingo no fim de tarde. Fizemos um belo jantar em família e convidados, comemorando todos os nossos aprendizados.

Prazerosos aprendizados!