domingo, 21 de julho de 2013

Leci Brandão - Zé do Caroço


Samba e política em mais um Zé, o Zé do Caroço Nos anos 1970, o policial aposentado José Mendes da Silva morava no morro do Pau da Bandeira, ao lado do Morro dos Macacos, no bairro carioca de Vila Izabel. Conhecido como Zé do Caroço e dedicado às causas de sua comunidade, colocou um alto-falante na laje da sua casinha para transmitir notícias importantes aos moradores da redondeza. Até que a esposa de um militar que morava na rua Petrocochino, próxima do morro, reclamou à polícia que o barulho do serviço de alto-falante a incomodava quando assistia à novela.

A história da ação contra a comunidade na época da ditadura foi contada à compositora Leci Brandão que com o tema compôs, em 1978, o samba Zé do Caroço. De tom engajado, a letra retrata o nascimento de um líder comunitário que batalha e “que malha o preço da feira” para ganhar a vida. Diz que ele defende seu povo e o direito deles à informação alternativa, fora, portanto, da alienante televisão “que distrai toda gente com sua novela”. Por isso é “que o Zé bota a boca no mundo/ Ele faz um discurso profundo/ Ele quer ver o bem da favela”. Noutro trecho, a compositora lamenta não haver uma figura como essa no morro da Mangueira, local que frequentava há anos, para mostrar a todos que “Carnaval não é esse colosso/ Nossa escola é raiz, é madeira”.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

U2 Van Diemen's Land. (live) - legenda em português BR


Uma inda Canção!

Quase eu ganho DOIS MILHÕES.
Teddy Williams

Eu sou um pouco sonhador. E até acredito em meus sonhos e tento realizá-los. Só quem sonha e tenta sabe o quanto é difícil ter sorte nessas realizações. E sorte é o que mais desejamos ter, mesmo que eu não acredite nela. Já conheci seis estados do Brasil, pelo trabalho que realizo e outros acontecimentos. Só no Ceará, dos 184 municípios, já conheci em viagens mais de 100. Já estive me apresentado com amigos em um dos mais antigos teatros da America Latina, em Ouro Preto/Minas Gerais.

Sonhei que teria uma grande surpresa, mas eu deveria refletir muito e escolher seis números para jogar na MegaSena. No meu sonho eu receberia DOIS MILHÕES trazidos pelas MÃOS da SORTE e ainda muito bem ESCOLTADOS. Só deveria jogar na MEGASENA, nada mais do que isso. Mas não sou de fazer apostas e nem jogos no geral. Não pensei e nem joguei os seis números. Apenas pedi que um amigo escrevesse os números e os jogasse.


No dia seguinte tive uma grande surpresa. A SORTE passou bem perto de onde eu estava, em uma loja comprando um livro para estudar. Ela de preto nem deu fé de mim. Não parou e nem entrou. Porém, de onde eu estava, vi com a maior clareza possível, ela de preto, passou com DOIS MILHÕES e eu fiquei admirando, muito admirado. De longe a sorte é linda e forte e vi também que o outro MILHÃO estava bem protegido. Nos ombros da polícia.
 (2 fotos)





Rosas e Livros
Teddy Williams

Cresci em meio à pobreza da comunidade e família. Meus pais eram o que eu aprendi a denominar hoje, com muita dor em meu peito, miseráveis. Assim fomos chamados um dia. Vivíamos de favor ou ajudados por esmolas. Muitas vezes éramos levados, por nosso pai, até a pista mais próxima ou perto de algum mercado, onde ele nos deixava pedindo esmolas, com a obrigação de sempre trazermos dinheiro. Apanhávamos muito, quando retornávamos com pouco. Ele bebia sempre. Ficávamos até o cair da noite, pedindo. O corpo doía. Fedíamos e quase sempre adoecíamos. Acredito que um de nossos irmãos morreu por isso. Ele começou a ter convulsões. Lembro como se fosse hoje, logo depois estava calado, para sempre! Deixamos de ser sete, em menos de dois anos. Passamos a ser quatro. Eu tinha seis anos, minha irmã cinco, o pai vinte e cinco e a mãe vinte e um. Era um tempo de muita dor. Olhávamos as outras crianças passeando, brincando, sorrindo... Queríamos sair de onde estávamos: das calçadas, em meio ao calor. Sair das portas dos supermercados, no vai e vem dos clientes, que ainda hoje não somos. Das portas dos bancos, sob os olhares assustados dos que entravam. Sempre que isso acontecia, de sairmos passeando como crianças normais, nosso pai descobria e nos batia. Parece até que ficava próximo, nos observando. Depois de apanharmos, secarmos as lágrimas, engolirmos o choro, ele dizia para nunca sairmos de onde estávamos e nunca sonharmos. Nada de sonhos.

Demoramos pouco para aprender essa lição, tão simples. Passamos muita fome, frio e medo. Nossa comunidade vez por outra era acordada ao som de tiros, sirenes de carros de polícia e helicópteros. Quase perdemos nossa casa, ou melhor, o lugar onde deitávamos. Quase não dormíamos, era uma mistura de pedaços de papelão, madeiras, jornais e sacos. Nossa comunidade cheirava mal. Alguns até morriam de morte natural. Muitos nasciam, sabíamos pelos choros dos pequeninos e os gritos dos grandes.

Um dia, já quase no fim da tarde, um grupo se aproximou da gente e ofereceu lanches, perguntando por nossos pais ou responsáveis. Disse que chegariam logo, foram ali, bem ali... menti. Estávamos em frente a um supermercado desses grandes, pedindo esmolas. Do outro lado da rua tinha uma praça, enorme, onde nunca tínhamos sonhado em ir. Lá as crianças brincavam. Os adultos corriam e velhos jogavam baralhos, damas ou apenas caminhavam, quando não estavam sentados olhando ao longe. Eu gostava de imaginar (não sonhar) o que os pais falavam para as crianças. Meus irmãos e eu nunca tínhamos sorrido, eu não lembrava. As outras crianças sorriam caminhando de mãos dadas com seus pais. Nem percebi direito, rapidamente outro grupo foi se organizando na praça. Uma mulher de saia colorida, blusa branca, chapéu preto, sentou-se e abriu algumas caixas. As pessoas foram se aproximando, chamadas por uma canção que eu não sabia de onde vinha. Por um instante pensei nas festas em que o tal Papai Noel aparece. Até nossos pais surgiram para comer os pães e tomar refrigerantes que ainda estava sendo distribuído. Fomos convidados para irmos à praça. Disseram que ia ser legal, tudo de graça: brincadeiras, livros, leituras, canções... Colocaram a gente bem perto da mulher com o chapéu preto. Eles tinham quase as mesmas roupas, os mesmos chapéus. Depois de tudo arrumado, a mulher deu boa noite e começou a cantar. Cantou, cantou e sorriu. Cantou, sorriu e parou. Depois pediu silêncio com uma voz baixinha e o dedo nos lábios. Ficamos calados e ela foi dizendo assim: era uma vez, dentro de uma imensa e linda floresta, um som que mais parecia um sorriso de criança... Com essas palavras, como em um passe de mágica, continuei atento, até meu pensamento ficou calado e fui indo, entrando na floresta e vendo... Talvez isso tivesse acontecido com meus pais e todos que estavam ali, pois o silêncio foi total, nem o barulho dos carros se ouvia na rua... Imaginei (não era sonho), o lugar que ela descrevia. A cada palavra que falava, mesmo sem eu entender o significado de quase todas, acreditei compreender o que ela queria dizer. Seus gestos eram leves. Eu acompanhava seus dedos, suas mãos... Ela falava dos grandes e dos pequenos rios. Das longas árvores, maiores que os maiores dos prédios ao redor daquela praça. Falava de lugares com pessoas diferentes: suas casas, suas canções, seus instrumentos musicais. Começou e foi assim, por um bom tempo, contando uma longa e linda história!

Ao meu lado, mais de trinta crianças acompanhadas de seus pais. Todos ali, atentos à contadora de histórias e encantados. Ela falou de alegrias e esperanças. Das dificuldades que enfrentamos na vida e suas belezas. Quando parou, disse que a esperança vem de longe, de muito longe e está dentro de nós. Que toda a natureza sempre comemora nossos passos, pois assim é preciso. Todos aplaudiram, até meus pais, que só reclamam da vida, choravam. Chorei de tanta alegria. Novamente eles cantaram e nós acompanhamos. Fomos convidados a olhar os livros, colocados em cima de panos coloridos. Era a primeira vez que eu os via assim de perto. Ela mostrou uns e disse que ali estavam as histórias que contou. Presenteou a todos com rosas e livros. Era abril. Falou de escolas, bibliotecas, centros culturais, de árvores, praças, lagoas... Lugares onde meus pais poderiam ir e nos levar.

Deitamos maravilhados pelas histórias que ouvimos e, para nossa surpresa, pela primeira vez, nossa mãe leu o que tinha nos livros, com voz suave e o rosto transformado. Ficamos calados. Até nosso pai parecia outro homem. Eu nunca tinha visto minha mãe ler nada. Chorei muito, não sei por que, mas era lindo. Pedi para ela contar outra história e assim adormeci e sonhei. Quando acordei, minha mãe cantava, meu pai estava de barba feita e cabelos penteados. Senti que algo havia acontecido. Não mendigamos mais depois daquele dia. Durante noites, antes de dormirmos, ela continuava a ler. Depois de alguns dias foram aparecendo outras pessoas da comunidade e o silêncio era total para ouvi-la. Ela foi convidada a contar histórias em outros barracos: tomávamos café, comíamos pão, bolacha. Outras pessoas também começaram a contar histórias e a comunidade foi se transformando, em meio a tantos problemas que ainda existiam. Um grupo passou a trazer livros, revistas, jornais. Um dia, minha mãe disse a todos: as histórias estão no mundo, em cada um de nós, nos livros e em nossas vidas. É preciso aprender a ouvir, a ver, a sentir e a ler, para poder contar, transmitir, compartilhar e encantar. Depois dessas palavras ela disse que nós deveríamos começar a estudar. Já estava passando da hora de dar um rumo novo as nossas vidas. Foi assim que ela falou. Eu adorei o que ouvi, mesmo só entendendo hoje, depois de sete anos, o que significavam aquelas palavras.